|
Viagem
ao Centro do Círculo
O projecto "Viagem ao Centro do Círculo" foi considerado,
no plano de 99, como um dos dois projectos especiais (o outro era a Estação).
Dada a sua escala financeira e organizativa, o projecto partiu de um consórcio
luso-brasileiro onde a Cena Lusófona desempenhou, desde o início,
o papel de "pivot", tendo as iniciativas tomado como ponto de
partida as experiências anteriores (ciclo de estágios em
países africanos de língua portuguesa, co-produções,
Estágio Internacional de Actores Lusófonos e a própria
rede de contactos que foi desenvolvida até aqui). À Cena
Lusófona estão associadas as companhias portuguesas A Escola
da Noite, Companhia de Teatro de Braga, e a companhia brasileira da Bahia,
Bando de Teatro Olodum/Teatro Vila Velha. O esforço destas quatro
instituições associadas - simultaneamente artístico,
organizativo e financeiro - não foi, contudo, suficiente para a
sua integral prossecução. Estavam os propositores do projecto
conscientes das dificuldades, especialmente financeiras, que ele implicava,
mas sempre acreditaram que a sua importância artística e
cultural tanto no âmbito lusófono como para além dele
(em especial na Europa), era suficiente para justificar uma atenção
especial por parte das instituições que defendem a internacionalização
de cultura portuguesa e das diferentes culturas que integram a CPLP. Tal
não aconteceu segundo os nossos desejos pelo que as partes associadas
tiveram que contar exclusivamente consigo próprias; como consequência
directa, houve necessidade de se readequar a sua escala, mantendo-se,
no entanto, a metodologia e os objectivos essenciais. Ficou comprometido
o desenho inicial para a segunda fase, de aprofundamento da pesquisa e
continuação do diálogo cultural encetado em cada
país com as oficinas de actor, assim como o calendário estabelecido
à partida.
A estreia ficou marcada para Julho de 2000, procurando-se que, posteriormente,
durante a digressão do espectáculo, se recuperem alguns
dos objectivos previstos para a segunda fase.
Contudo, toda a primeira fase do projecto foi integralmente cumprida e
excedeu os objectivos. Foram realizadas seis oficinas (Salvador da Bahia,
Maputo, Luanda, Mindelo, S. Paulo, e Braga), envolvendo 114 jovens actores
de vários países. Para a Cena Lusófona, este projecto
permitiu dinamizar e consolidar a rede de agentes teatrais que tem vindo,
desta forma, a evoluir e crescer - tanto ao nível da participação
individual dos actores, como na colaboração institucional
(ver adiante ficha de cada oficina).
«O projecto "Viagem ao Centro do Círculo", reuniu
artistas dos diferentes países lusófonos procurando estabelecer
pontes entre as culturas, num diálogo que incluiu a fala, o canto,
a música instrumental, as artes visuais, a dança, a literatura
e, evidentemente, a energia, o humor e a vivência de cada artista.
O
programa ministrado pelo encenador Stephan Stroux nas Oficinas descreve
um ciclo, abordando: a infância; as utopias do indivíduo;
a espiritualidade; a violência pessoal e a institucionalizada; a
relação do homem com a terra, com a água, com o fogo
e com o ar.
O método elaborado por Stephan Stroux evita que o actor "represente",
ou seja, imite a realidade através de estereótipos. Motiva-os
a vasculhar a memória pessoal até ao limite em que ela se
confunde com a colectiva. Leva-o à infância e ao imaginário
infantil através de depoimentos, canções e jogos.
Estimula-o a reflectir sobre a terra e a água e a voar nos ventos
habitados pelos espíritos. O conjunto desses estímulos vai-se
convertendo em ficções, em funções poéticas,
em happenings. Em vez de "representar" o actor "actua".
Actua dentro da sua realidade, através dos ritos que permeiam o
quotidiano. Expõe com sua arte uma visão crítica
da mesma realidade.» (Sebastião Milaré)
|