apresentaçãomemóriaagendacentro de documentação e informaçãodestaqueediçõesconexões

1997
1998
1999

Circuito Teatral Lusófono
Agitada Gang
Como Nasce um Cabra da Peste
Digressão
Sapateira Prodigiosa
Cloun Creolus Dei
Participação do Teatro Meridional no Mindelact'99
Os Velhos não devem namorar

Estação Cena Lusófona
Cloun Creolus Dei
Aula-espectáculo Sol a Pino - António Nóbrega
Flor de Obsessão
Pranto de Maria Parda
Saga Press
A Sapateira Prodigiosa
O embondeiro que sonhava pássaros
Danças de Câncer
Sons da Lusofonia
Antígona

Forum
ciclo de leituras de textos dramáticos lusófonos [S. Paulo, Brasil]
Exposição: Angola a Preto e Branco

Projecto Especial
Viagem ao Centro do Círculo
Oficina de Salvador da Bahia
Oficina de Maputo
Oficina de Luanda
Oficina de Mindelo
Oficina de São Paulo
Oficina de Braga

2000




Oficina de Cabo Verde

«Em alto mar, na costa atlântica africana, um arquipélago chamado Cabo Verde, não tem, em processo de cicatrização, como em Moçambique, ou abertas como em Angola, as feridas da guerra. Os jovens actores de lá não têm memória de guerra na sua história pessoal. Outros problemas os afectam - ausência de chuvas, aridez do solo, a prática tradicional da imigração -, são desafios que a natureza e as estruturas económicas lhes colocam, não o trauma sempre abominável das batalhas sangrentas.
[...] A predisposição festeira do povo é o que mais aproxima Mindelo (creio que Cabo Verde como um todo) da atmosfera baiana. E na oficina a tendência foi reforçada pela participação generosa de grupos de capoeira, de carnaval e de São João, tornando mais explícita e animada a festa em que se transformaram os trabalhos.
Nos depoimentos, nas evocações dos espaços da infância, os actores permitiram-se o mergulho na memória e no imaginário. Trouxeram à tona particulares circunstâncias de vida daquela sociedade, lembranças de privações por conta das secas quase ininterruptas na ilha (praticamente em todo o arquipélago) e da escassez de trabalho, que força grandes contingentes da população a imigrar.
Uma constante nas improvisações e nos depoimentos é a imigração. Quase todos os participantes têm parente próximo - pai, irmão, tio - imigrante. Dos imigrantes (ou do dinheiro que os imigrantes enviam para o sustento da família) vem boa parte da receita do país. O produto em oferta, neste caso, é a força de trabalho. Mas todo o imigrante tem história, tem laços afectivos na sua terra. Fortes laços, para os que imigram e para os que ficam, que transformam a nostalgia numa das expressões mais enérgicas do caboverdiano - um homem sempre olhando o horizonte por sobre o mar, prisioneiro do Oceano.
Na própria raiz da nação a ideia de trânsito de uma para outra terra está presente. Eram ilhas desabitadas antes de os portugueses chegarem e as transformarem num grande entreposto de escravos. Por lá passava a população desterrada do continente africano para o Novo Mundo, especialmente o Brasil. Ao longo da história de Cabo Verde as chegadas e partidas através do mar foram deixando suas marcas e a inefável nostalgia da terra - ainda que na própria terra se esteja.
Os efeitos da imigração sobre a vida familiar, assim como a permanente lida com a terra, nessa ilha vulcânica, despojada de água doce, de chuva e de plantas, mostravam-se nas oficinas sempre acompanhados do humor, da alegria natural daquele povo. A chegada de grupos visitantes, o de capoeira, o do carnaval, o de São João, estimulou os actores a actualizar na dança, no canto, nos jogos os seus rituais, as suas divindades.
Foi, portanto, cheio de nostalgia, mas também de ritmos e de alegria a última oficina do projeto na África, já dentro do Oceano Atlântico, virtualmente a caminho do Brasil. De volta ao ponto de partida.» (Sebastião Milaré)

Início