|
A versão original deste espectáculo tem por título "Cloun Dei" (adaptação livre para latim da expressão "Palhaços de Deus"), espectáculo concebido e estreado em 1993 pelo Teatro Meridional. Em Maio de 1994 o Teatro Meridional representou "Cloun Dei" no Festival Internacional de Marionetas do porto e entre os espectadores estava um jovem que nos veio cumprimentar no final com um brilho especial no olhar. Esse jovem chamava-se João Branco e desde essa altura que me desafia a vir a Cabo Verde montar uma versão crioula de "Cloun Dei" com actores cabo-verdianos. Depois de um gratificante workshop sobre a técnica clown (palhaço teatral) escolhi os quatro actores com quem tive o enorme privilégio de trabalhar durante aproximadamente 40 dias. O resultado é "Cloun Creolus Dei" ("Palhaços Crioulos de Deus"), um espectáculo coreografia teatral baseado na ironia, humor e ternura próprios da personagem do clown, contra a ideia de pecado tal como nos é imposta na cultura ocidental. É um afrontamento a toda a série de intermináveis e incompreensíveis proibições com que as sociedades se encarregam de "socializar" os seus indivíduos. Partindo da essência da personagem do clown, este espectáculo propõem uma reflexão sobre as concepções tão universais como a autoridade, a religião e o absurdo, e espero, sinceramente, que dê ao espectador tanto prazer ao vê-lo quanto nos deu a contruí-lo. Miguel Seabra Teatro Meridional "Não há nenhuma forma teatral nem nenhum anti-teatro tão novo que não possam ser enquadrados em algum momento do passado", disse Margot Berthold na sua "História Social do Teatro". Ao contrário do que esta afirmação possa sugerir, a investigação não tem de ser sempre encaminhada para a arqueologia teatral. Todo o verdadeiro teatro, todo o espectáculo onde se revive essa transmutação eterna e momentânea do Actor em "outro" com a presença e participação do público, contém sempre cremos um elo que vem do passado, uma herança de toda uma cultura. Vivemos num tempo em que as pressões de colonização cultural são mais fortes que nunca. A progressiva internacionalização dos mercados e a consequente e crescente uniformização dos meios de comunicação são os principais responsáveis pela dita colonização. Será, talvez, um processo natural de evolução, mas acreditamos ser de vital importância procurar manter vivas as raízes culturais que caracterizam a s diversas maneiras de entender a realidade. Não pretendemos reviver as formas teatrais de outras épocas mas sim indagar o seu espírito e encontrar no presente essa verdade que o teatro tinha. Nós portugueses, espanhóis e italianos sentimos uma particular forma de estar na vida que faz parte, e provêm, da cultura mediterrânea. Estamos conscientes da dificuldade de definir claramente as características de uma cultura que é, ao mesmo tempo, a soma de tantas outras. Mas sentimos "clara e distintamente" a sua essência, e a essa essência que nos propomos investigar, através da expressão de uma cumplicidade, de um modo de ver o mundo que temos descoberto durante o nosso trabalho. Interessa-nos improvisar de uma forma nova: reaprendermo-nos e aprendermos a contar histórias, relacionando-nos com o público como na antiga comédia. Queremos um teatro directo entre o actor e o público. Sem grandes arquitecturas cenográficas, sem profundas análises dramatúrgicas: O Teatro eterno onde o importante é como se conta, nesse encontro único entre o Actor e o espectador.
|
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||