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Outras Fronteiras
Joaquim Paulo Nogueira

Tenho consciência de que a prática de ateliers de escrita no processo de construção de um espectáculo é uma experiência que ainda não ganhou carta de alforria, encontrando apenas alguma receptividade no domínio da formação (excepção para o trabalho continuado que Jorge Silva Melo e os Artistas Unidos têm feito nesta área). Foi por isso que encarei com grande expectativa o trabalho com o Rogério de Carvalho, um dos criadores que melhor trabalha a dimensão da palavra e do texto teatral. Há sempre uma tensão natural entre a escrita e a representação e eu, um dramaturgo a dar os primeiros passos, iria confrontar-me com aquele que para mim é um dos mais interessantes encenadores da actualidade.

Curiosamente um dos momentos-chave neste tipo de prática surge quando começamos a atribuir uma natureza de escrita a todo o trabalho de criação, nomeadamente a encenação, a representação, a própria luz e o som, assinalando no interior do objecto teatral um enorme campo de significação construído por diferentes linguagens não verbais.

O mais interessante é o papel que a mestiçagem de culturas, de linguagens, desempenhou no resolver desta tensão, desdramatizando-a. O que era difícil, e decisivo, não era definir o espaço da escrita e o da representação, era saber como é que estas duas formas de expressão iriam conseguir capturar um universo de sentidos, de histórias, de vivências que nos apareciam em catadupa. Até porque a presença constante de todos os actores no decorrer do atelier de escrita tornou evidente que a língua que nos unia era, dramaticamente, a língua que nos separava. Era ela a grande fronteira.

Outra fronteira importante era o tempo. Se todo o teatro é um labor sobre a memória, aqui, de uma forma muito especial, o que unia esta dramaturgia do fragmento, era o esforço sobre a recuperação da memória. Dramaturgia inacabada, a fazer, desfazer, refazer...

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