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O olhar de Rogério de Carvalho

"Tudo começa por descobrir as potencialidades e limitações de um conjunto de pessoas com problemas e especificidades diferentes..." é assim que Rogério de Carvalho inicia a con-versa sobre o que foi este estágio. Muito trabalho, horas seguidas fechados na sala do Trindade a tentar construir o grupo, a "acabar com o nós e os outros, e formar o todo"... É neste confronto de personalidades no mesmo espaço que as interacções de grupo derrubam as barreiras que existem entre cada um. O objectivo é procurar a constituição de uma plataforma comum.

Rogério de Carvalho não procurou fazer teatro. "As pessoas estavam naquela sala mais para trocar experiências do que para representarem". E de facto foi o que aconteceu. Cada um mostrava o que sabia fazer e partilhava com os outros toda a sua experiência acumulada. "O meu papel foi sempre o de motivar esse intercâmbio vivencial". E ao mesmo tempo que isso ia acontecendo, começou a criar-se uma memória de grupo onde tudo começava a ser guardado, onde as experiências iam sendo armazenadas. Depois chegou o momento de organizar esse imaginário colectivo de forma a poder ser construído um espectáculo onde "não havia o singular, antes um conjunto de culturas" onde cada fragmento tem uma história, a que ninguém é indiferente, mas é uma história contada no plural.

E são essas histórias que dão todo o dinamismo à peça. Do primeiro ao último espectáculo tudo mudou. Tudo ficou diferente. A cada novo sítio da digressão, novas soluções eram testadas. Por outro lado, "e cada vez que via a peça e encontrava novas fragilidades, procurava eliminá-las". Tudo isto só foi possível porque não havia uma trama narrativa fixa. Daí a permanente evolução.

Rogério de Carvalho olha para esta experiência inédita como um sítio onde cada um se representa a si próprio: "para quem viu o espectáculo e conhece os actores, não pode deixar de reparar que eles se tratavam pelos nomes próprios. O Capitão era o Capitão, quando o Lucau chamou a Bia, era mesmo a Bia." E a fronteira lá estava. Entre um real imaginário vivido por cada um. "A Fronteira" que nos separa mas ao mesmo tempo nos une. "Unidos sempre por essa coisa chamada língua portuguesa..."

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