Na rota da lusofonia teatral
Timor Lorosae, a mais jovem Nação de língua oficial portuguesa,
é também o mais premente desafio da Cena Lusófona –
Associação Portuguesa para o Intercâmbio Teatral. O oitavo
palco da Lusofonia já entrou, deste modo, na dinâmica de cooperação
na área do teatro, considerando o desenvolvimento cultural como um dos
pilares do seu crescimento como país independente. No capítulo das
artes performativas, a República Democrática de Timor Leste tem
certamente muito a mostrar e a ensinar ao mundo. E muito a receber, depois de
um lento, doloroso e destrutivo processo de independência. Daí a
importância de se estabelecerem laços, pontes, caminhos de contacto
e aproximação, num processo construtivo de troca e intercâmbio.
Pela Cena Lusófona passa parte dessa responsabilidade, integrando Timor
no seio deste movimento da lusofonia teatral.
Timor, aliás, faz parte
das preocupações da Cena, na prática do nosso projecto, pelo
menos desde 1998, ano em que dois jovens actores timorenses participaram no I
Estágio Internacional de Actores. O arranque de um sólido projecto
de cooperação, no entanto, teve lugar este ano, no âmbito
da I Festa da Independência, a 20 de Maio, preparada com todo o empenho
pelo actual Governo de transição. A convite deste, a Cena Lusófona
preparou a participação nessas festividades de um grupo de teatro
português, enviando também uma delegação da Associação,
a fim de concertar actividades futuras, com os parceiros teatrais e oficiais.
Para além da companhia em apreço, esta primeira missão integrou
o presidente do projecto, António Augusto Barros, o agente cultural timorense
José Amaral (já no território) e o documentalista-vídeo
Nuno Patinho.
Teatro
Meridional em Dili
A companhia
escolhida para esta ocasião foi o Teatro Meridional, com o espectáculo
“Mar me Quer”, com base na novela homónima do moçambicano
Mia Couto, co-responsável, com Natália Luiza, pela sua adaptação
dramatúrgica, adaptação encomendada e custeada na altura
pela Cena. Esta peça - segunda incursão do Meridional pela obra
de Mia Couto, depois de “A Varanda do Frangipani” - estreou em Maio
de 2001 em Lisboa, no Teatro Taborda (em co-produção com a Culturgest),
tendo-se desenvolvido posteriormente sob os auspícios da Cena Lusófona,
ao encerrar em Julho de 2001 o ciclo Práticas Cénicas Interculturais,
que teve lugar em Coimbra. “Mar me Quer”, por outro lado, constituirá
uma das nossas próximas apostas editoriais, prevendo-se ainda para este
a sua inclusão na Colecção Cena Lusófona de dramaturgia
em português. Ainda a propósito do trabalho que temos realizado com
esta companhia ibérica, com actividade centrada em Lisboa e Madrid, a Cena
Lusófona garantiu ainda a participação do Meridional na edição
de 2001 do Festival Mindelact, que anualmente se realiza em Cabo Verde, tendo
o grupo apresentado neste teatro o espectáculo “Dellirios dell’Arte.
A delegação enviada pelo Meridional a Timor foi composta por Miguel
Seabra, Natália Luiza, Alberto Magassela, Cucha Carvalheiro, Carlos Paulo,
José Rui Silva e José Rodrigues.
O intercâmbio a efectivar
em/com Timor compreende uma segunda fase, de carácter formativo, com a
deslocação a Dili, em Agosto, do encenador luso-angolano Rogério
de Carvalho, que aí coordenará uma Oficina Teatral, dedicada especialmente
a jovens actores timorenses. Pretendemos lançar, com esta acção,
as bases para uma futura co-produção teatral Timor/Portugal, a concretizar
em 2003 sob a direcção de Rogério de Carvalho, prevendo-se
a sua inclusão na VI Estação da Cena Lusófona, que
esse ano terá lugar em Portugal. Uma terceira fase da nossa intervenção
em Timor Lorosae compreenderá o registo fotográfico e videográfico
das artes performativas locais, prevendo-se ainda uma missão específica
no contexto do projecto Narradores Orais, que teve já início na
Ilha do Príncipe, e que se estenderá aos outros países lusófonos.