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Projecto Especial
Viagem ao Centro do Círculo
Quem Come Quem

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Viagem ao Centro do Círculo
Quem Come Quem

A “Viagem ao Centro do Círculo” é uma co-produção que envolveu várias estruturas teatrais e abordou o tema da assimilação cultural entre os povos de expressão portuguesa.
A face mais visível desta iniciativa foi, sem dúvida, o espectáculo Quem Come Quem, dirigido pelo encenador alemão Stephan Stroux, que estreou nos dias 5 (em Coimbra, no Teatro Académico de Gil Vicente) e 12 de Julho (em Braga, no Largo da Sé).
Nesta co-produção estiveram envolvidas três companhias de teatro – A Escola da Noite, de Coimbra, a Companhia de Teatro de Braga e o Teatro Vila-Velha, de Salvador, Brasil – e a Cena Lusófona, Associação Portuguesa para o Intercâmbio Teatral.

Quando pensamos numa forma de melhorar a ligação entre os países de língua oficial portuguesa, entre países de tal forma diferentes na sua estrutura, na sua história e na sua economia, dir-se-ia que somente o diálogo cultural pode criar uma base de comunicação.
Não basta estabelecer um intercâmbio cultural entre Portugal e os outros países de língua portuguesa. É necessário estabelecer, paralelamente, uma curiosidade e um interesse mútuo entre o Brasil, os novos países africanos e entre todas as partes que compõem este enorme organismo multicultural. Acreditamos que o teatro, enquanto arte que promove uma interacção vital com o público e que representa em si mesmo um conjunto de todas as artes, é o instrumento ideal para esse diálogo cultural e para esse debruçar sobre culturas tão diferentes. No entanto, é bem conhecido o fenómeno de procurar a arte longe do nosso próprio mundo – sejamos nós o africano, o europeu ou o sul-americano. Não se pode mais aceitar a ideia de que o teatro vem da Europa só porque a História até hoje tem mostrado a Europa como potência militar e económica. Esquecemo-nos facilmente da energia e da riqueza cultural que encontra na nossa vida quotidiana como africanos, como europeus e como sul-americanos e se encontram também na realidade condensada dos rituais dos diferentes países. Uma forma de restabelecer essa consciência sobre a riqueza da vida quotidiana – indispensável para a compreensão e desenvolvimento dos nossos próprios processos artísticos – é multiplicar os olhares curiosos que nos chegam vindos de uma outra realidade cultural. Este facto levou-nos a considerar fundamental endereçar um convite a um encenador de um país distante do círculo lusófono. Porque, neste intercâmbio de olhares, o encenador funciona como catalisador entre as diferentes posições e como forma de ajudar a transformar as imagens da realidade em utensílios artísticos. Sendo útil o facto de ele ser originário de uma posição independente, sem demasiada ligação com qualquer das culturas representadas, é necessário, contudo, que tenha tido uma experiência semelhante no seu trabalho teatral.
O encenador escolhido para este projecto, para além do seu valioso curriculum artístico, já realizou trabalhos teatrais em Portugal, em África e na América Latina. Todo o seu trabalho se desenvolve a partir de métodos artísticos que têm como base a confrontação com diferentes culturas.
Pretendeu-se, como objectivo principal deste projecto, desenvolver um trabalho interdisciplinar no âmbito das artes, centrado no teatro, que evidenciasse a importância da ligação entre os países de língua oficial portuguesa para a criação de sinergias e que aproveitasse a condição europeia de Portugal para potenciar o diálogo cultural entre todos os países participantes e a Europa.
Principal campo de pesquisa, as oficinas ministradas por Stephan Stroux, segundo um programa por ele mesmo estabelecido, fizeram brotar através da memória, do gesto e do canto dos actores elementos da sua cultura viva, pulsante, vital e sempre complexa.
O projecto completo consistiu na construção de um laboratório de pesquisa e de troca, onde a formação foi concebida como um processo motivado por vários objectivos:
· provocar a curiosidade mútua;
· evidenciar o contributo original de cada actor;
· estimular o trânsito de saberes;
· descobrir fórmulas para dialogar e interagir no presente;
· passar técnicas adquiridas, questionar a utilidade de técnicas face às diferentes realidades;
· valorizar o património cultural, literário e performativo de toda a comunidade artística lusófona, aprofundando o conhecimento de cada actor nesse domínio.
















































O projecto Viagem ao Centro do Círculo traduziu-se, no concreto, na possibilidade de mobilização de cerca de 120 actores no Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Angola e Portugal. O resultado desta mobilização foi uma equipa internacional constituída por 14 actores (4 do Brasil, 1 de S.Tomé, 1 de Cabo Verde, 1 de Moçambique, 2 de Angola, 1 da Guiné-Bissau e 4 de Portugal) que deram corpo ao espectáculo Quem Come Quem.
Dentro deste espírito, levou-se a cabo a montagem de um espectáculo original, envolvendo os diversos países de expressão portuguesa e integrando actores de todos esses países. Uma produção expressa nestes termos seria já por si um desafio. Mas quisemos mais do que isso: que a preparação do espectáculo se convertesse, ela própria, em criação artística permanente.
Entendemos que convidar pessoas de países diferentes e de culturas distintas para trabalhar na Europa é insuficiente, porque a parte mais importante do trabalho diz respeito à descoberta do que nos é próximo em cada cultura, como material de trabalho artístico. Não é fácil descobrir a qualidade do que se encontra próximo dos nossos olhos. O importante foi que cada participante no projecto antecipasse uma ideia, por mínima que seja, sobre os mundos dos outros actores, de modo a poderem desenvolver rapidamente um vocabulário artístico e os pontos de animação para uma fase mais avançada do projecto.
Há geralmente uma preocupação genérica no que diz respeito à cultura das antigas colónias: o que se passa na Europa é mais importante e mais valorizado do que aquilo que nasce nas próprias raízes. A superioridade económica confunde-se com a superioridade cultural e provoca o preconceito: a arte teatral apenas se produz na Europa.
Consideramos importante não aumentar este mal-entendido. É necessário definir um processo de intercâmbio num nível de igualdade entre as diferentes posições culturais dos países de língua portuguesa. Foi o que pretendemos com este projecto e com o tema que explorámos.

 

FICHA TÉCNICA
Direcção artística, cenografia, adereços e desenho de luz Stephan Stroux
Elenco Aires António Major (S. Tomé e Príncipe), Amor de Fátima Mateus (Angola), António Jorge (Portugal), Arlete Dias (Brasil), Bia Gomes (Guiné-Bissau), Fernando Candeias (Portugal), Jaime Monsanto (Portugal), José Évora (Cabo Verde), Melquisalem Sacramento (Brasil), Mestre Capitão (Angola), Rogério Boane (Moçambique), Simone Iliescu (Brasil), Sofia Lobo (Portugal), Tilike Coelho (Brasil)
Dramaturgia Sebastião Milaré
Figurinos Ana Rosa Assunção
Assistente de cenografia e adereços Cristina Lucas
Assistência de desenho de luz Nuno Patinho
Fotografia Nuno Patinho
Produção
Coordenação
Cristina Henriques
Produção executiva Cristina Henriques, Daniela Queirós e Rui Valente Promoção / divulgação Isabel Campante e Casimiro Ribeiro
Assessoria de imprensa António José Silva e Elisabete Apresentação
Colocação de espectáculos Cristina Henriques, Rui Valente e Casimiro Ribeiro
Grafismo Ferrand, Bicker e Associados
Co-Produção Cena Lusófona, A Escola da Noite, Companhia de Teatro de Braga, Teatro Vila-Velha
Alto Patrocínio Ministério da Cultura
Patrocínios Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Fundação Braccara Augusta
Apoios Teatro Académico de Gil Vicente, Câmara Municipal de Coimbra, Câmara Municipal de Braga, Câmara Municipal de Cantanhede, Escola Superior de Educação de Coimbra.

 

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