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Mar me Quer, de Mia Couto, adaptação teatral de Natália Luiza |
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A Cena
Lusófona - Associação Portuguesa para o Intercâmbio
Teatral, tem o prazer de informar que a Colecção Cena Lusófona,
de dramaturgia contemporânea em Português, acaba de ser enriquecida
com mais um volume. Desta feita, trata-se da adaptação teatral da
novela "Mar Me Quer", do escritor moçambicano Mia Couto, (re)escrito
pelo próprio em co-autoria com a actriz portuguesa, mas de naturalidade
moçambicana, Natália Luíza, que, mais que manter, aprimorou
o maravilhoso universo onírico e poético da obra original. O livro
já está disponível ao público em geral, podendo ser
adquirido mediante encomenda aos nossos serviços ou em livrarias seleccionadas
nas principais cidades portuguesas. Este sexto volume da Colecção
Cena Lusófona é, assim, constituído pela adaptação
dramatúrgica da novela homónima do consagrado autor moçambicano,
encomendada na altura pela Cena Lusófona, e que a companhia Teatro Meridional
colocou em palco, num espectáculo estreado em Maio de 2001, no Teatro Taborda
em Lisboa. A peça e o texto "Mar Me Quer" passaram, entretanto
e com grande sucesso, por diversos outros "palcos", quer encerrando
o ciclo Práticas Cénicas Interculturais, acção da
Cena Lusófona que decorreu em Julho de 2001 em Coimbra, quer em Timor Leste,
onde participou na I Festa da Independência, já em Maio deste ano. Quanto
à obra de Mia Couto/Natália Luzia, socorramo-nos, com a devida vénia,
da sinopse do Meridional, e da citação do autor moçambicano: «Mulata
Luarmina e Zeca Perpétuo partilham território de vizinhança,
chão de terra tão mais velho que eles, olhando o mar que é
sempre quem mais viaja. Luarmina ensombreada de um qualquer silêncio,
que de tão longo parece segredo, entardece todos os dias na companhia de
Zeca, ouvindo as histórias que vão povoando a paisagem. Zeca
Perpétuo sonha sempre o mesmo: se embrulhar com ela, arrastá-la
numa grande onda que os faça inexistir. Luarmina foi aprendendo mil
defesas para as insistências namoradeiras de Zeca, mas um dia resolve negociar
falas e outras proximidades, não em troca de aventuras sonhiscadas de Zeca,
mas de suas exactas memórias. E como diz o avô Celestiano "o
coração é uma praia", em que o mar porque nos quer,
acaricia memórias e apaziagua ausências. Avô Celestiano
é a sabedoria do tempo. Mas também é o fabricador de sonhos.
Por via dos sonhos, ele visita os vivos e conduz, na sombra dos aléns,
os destinos e os amores de Zeca e Luarmina.»"O que faz andar
a estrada?
o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá
viva.
para isso que servem os caminhos. Para nos fazerem parentes do futuro."
Mia Couto, Mar Me Quer
Sobre
os autores:
Mia Couto Nascido na Beira (Moçambique),
em 1955, Mia Couto é considerado um dos nomes mais importantes da nova
geração de escritores africanos que escrevem em português.
Este estatuto incontestado deve-se não só à forma como descreve
e trata os problemas e a vida quotidiana do Moçambique contemporâneo,
mas principalmente à inventiva poética da sua escrita, numa permanente
descoberta de novas palavras através de um processo de mestiçagem
entre o português «culto» e as várias formas e variantes
dialectais introduzidas pelas populações moçambicanas. Mia
é assim uma espécie de mágico da língua, criando,
apropriando, recriando, renovando a língua portuguesa em novas e inesperadas
direcções. Tem, devido a essa autêntica revolução
de inventiva linguística, sido muito apropriadamente comparado a outro
grande mágico da Língua Portuguesa do século XX, o escritor
brasileiro João Guimarães Rosa. António Emílio
Leite Couto, mais conhecido por Mia Couto (alcunha que conserva desde a infância),
foi, desde 1974 e durante vários anos, director da agência de informação
de Moçambique; seguidamente dirigiu o jornal Notícias de Maputo
e a revista Tempo. Posteriormente, estudou Medicina e Biologia e é actualmente
-biólogo. A escrita tem sido no entanto uma paixão constante, desde
a poesia, com que se estreou em 1983 (Raiz de Orvalho), até à escrita
jornalística (bem presente no livro que reúne as crónicas
escritas para o jornal «Notícias de Maputo», Cronicando) e
à prosa de ficção. A questão do género literário
não é, de resto, a mais importante para um autor em cuja escrita
prosa e poesia se contaminam e que escreve «pelo prazer de desarrumar a
língua». Questões mais importantes reflectidas na sua obra
são as relacionadas com a vida do povo moçambicano, um dos mais
pobres e martirizados do mundo, recém-saído de 30 anos de guerra
civil e onde persiste uma forte tradição de transmissão da
literatura e dos saberes essencialmente por via oral. Numa cultura onde se diz
que «cada velho que morre é uma biblioteca que arde», Mia empreende
uma escrita que liga a tradição oral africana à tradição
literária ocidental, tal como no seu trabalho de biólogo liga, no
estudo da floresta, o saber ancestral dos anciãos sobre o espírito
das árvores e das plantas à moderna ciência da Ecologia. Essencial,
num caso como noutro, é sempre a relação mais profunda entre
o humano e a terra, entre um humano e outro humano, por vezes nas sua condições
mais extremas, como no seu primeiro romance, Terra Sonânbula, saudado pela
crítica como um dos melhores romances em português dos últimos
anos e que descreve a luta pela sobrevivência durante a guerra civil em
Moçambique. Natália Luiza
Nasceu em Moçambique
em 1960. Estudou Psicologia na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
da Universidade de Lisboa, e Formação de Actores na Escola Superior
de Teatro e Cinema. Tem dividido a sua actividade como encenadora, formadora e
actriz. É co-Directora Artística do Teatro Meridional.
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