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Comunicados de imprensa

14 de Agosto de 2002

Nota de Imprensa

Auto de Floripes na Estação/Gravana 2002


A Estação da Cena Lusófona/Festival Gravana 2002, ponto de encontro do teatro e, este ano, da música lusófona, que está a decorrer até dia 18 em São Tomé e Príncipe, muda-se amanhã “de armas e bagagens” para a Ilha do Príncipe, onde se assistirá à representação do mega-espectáculo de rua Auto de Floripes. As atenções estarão centradas na mais popular e grandiosa celebração cultural desta nação lusófona, que transporta para o ambiente africano local uma tradição de raízes medievais europeias, mobilizando dezenas de actores para uma representação que pode chegar às 13 horas consecutivas, aproveitando como cenário as ruas e edifícios emblemáticos da localidade de Santo António do Príncipe.

Este grande espectáculo narra a história de Carlos Magno, dos seus heróicos Doze Pares de França, do almirante mouro Balão e de sua filha Floripes, princesa turca, casta e “inocente” donzela na versão africana, de seu irmão, o temível guerreiro mouro Ferrabrás. A par com a tradição do Tchilóli, na ilha de São Tomé, o Auto de Floripes assume-se como uma das mais extraordinárias mobilizações culturais populares africanas, no capítulo das artes teatrais e performativas, profundamente enraizadas em São Tomé e Príncipe. O Auto de Floripes, refira-se, é ainda representado, noutros moldes, em diversas zonas do globo, designadamente no Norte de Portugal (Minho e Trás-Os-Montes).

Todos os anos, em meados de Agosto, Santo António do Príncipe torna-se «no maior palco do mundo». Um palco coberto de céu africano. «É um acto teatral integral, não se restringe a um palco», como explica a Augusto Baptista, autor do álbum-fotográfico recentemente editado pela Cena Lusófona em torno desta manifestação cultural, o presidente do Governo Regional do Príncipe, Damião Vaz de Almeida. Em Santo António do Príncipe, ao contrário das Floripes “brancas” portuguesas de Trás-os-Montes ou Minho, a acção tem lugar na(s) rua(s), desta que é «a mais pequena cidade do globo». No Príncipe a acção de Floripes é também bem mais extensa que nas suas congéneres portuguesas, que não ultrapassam as 4/5 horas de espectáculo.

Em África chegam às 13 horas de representação, de combates entre cristãos e turcos e paixões de Floripes, que no Príncipe também se designam por Tragédia ou Cultura de São Lourenço. «O palco é a rua. O público é actor. E as palavras perdem importância relativa, diluem-se em longas horas de acção e movimento, em locais variados». «A 15 de Agosto, toda a manhã, um a um, cristãos e mouros emergem dos confins do tempo. Sempre em desfile, assaltam, ocupam ruas, enchem-nas – por artes de teatro – de sons e cores de guerra. Tarde, noite dentro, terçam armas. Tenso frenesim. Pelejas ao jeito de outrora, sem quebranto de ânimo», descreve o repórter-fotográfico português.

Floripes Cá e Lá em exposição fotográfica no Príncipe

Ontem (dia 14), assinalando a importância da Floripes nesta Estação, foi inaugurada no Príncipe a exposição fotográfica de Augusto Baptista sobre este espectáculo, designada “Floripes Cá e Lá”, onde o autor traça paralelos entre as representações contemporâneas do Auto no Príncipe e em Portugal. Decorreu igualmente o lançamento do referido álbum-fotográfico no Príncipe. Em simultâneo foi também apresentado pela primeira vez o vídeo-documentário realizado pelo jovem cineasta português Ivo Ferreira para o projecto Narradores Orais, levantamento de tradições verbais que a Cena Lusófona está a levar a cabo nos diversos países lusófonos. Este vídeo-documentário em particular diz respeito a Narradores Orais da Ilha do Príncipe.

Sobre a Floripes, a palavra a Augusto Baptista, que assistiu já a diversas representações do Auto a fim de concluir o seu trabalho: «E aqui, Continente e Ilhas, Floripes e a saga carolíngia, contada e difundida por via da História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França, não se circunscreviam no passado ao universo restrito que hoje se conhece. E depois, do Príncipe tão perto: S. Tomé. Em tese não se podem excluir hipóteses. Floripes tem a escala do verbo, a expressão pluricontinental do passado cultural onde germinou. Chegou ao Príncipe pelas mãos do mar. Isto é seguro. Quando? Grande é o mar; e, maior ainda, a bruma... Floripes, branca e negra, e o teatro popular são desafios a reclamar hoje ao nível dos especialistas dos Sete (mais Um) – final e felizmente todos libertos dos constrangimentos do passado – um estudo objectivo, multidisciplinar e necessário. Em cooperação, sem ressentimentos».

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